domingo, 27 de outubro de 2013

Não é Nada

Não é nada, não é nada
Não é nada, mas é tudo
Não é nada, foste marcada
Não é nada; te seguro.

Não é nada, mas foi
Não é nada, só muro
Não é nada, diga "Oi"
Não é nada, só algo imundo

Nada é; deixe ser
Nada é como pensar
Nada é como andar
Tudo foi viver

Risos que contemplo
Abraços que acalento
Nó sem remendo
Não é nada, deixe o tempo

domingo, 20 de outubro de 2013

Charlotte

Penso em ti
Olhei a janela
Queria sorrir
Mas a tristeza vem dela

Não queria estar baixo
Mas estou alto
Entendedor calado
Está tudo guardado

Mendigo que vaga
Alcoólatra da vida
Quer só mais uma baga
E coçar a barriga.

Esmola preciosa
Pinga para alimentar
Mendiga estilosa,
Vem pro meu lar!

Puta da vida...
Da minha e da sua
Penso no dia
Em que não estarás nua.

Carros passam e buzinam
Olhas aflita
Como recriminam
A rotina da vida

Charlotte, querida
Táxi foi
Enquanto via,
Você nem disse "Oi"

Puta merda
Agradeci, não sei
Merda por merda,
Não rimou, eu sei.

Veja, Charlotte
O tempo passou
Foi-se o trote
E a ti, calou...

Luz de poste
Telefone da moda
Pose de quem pode
Alma antiga...

Já sorriu e gemeu.
O tempo diz:
O quanto mereceu
"Quem já foi feliz?"

Desconexo

Olhe a Lua
Penumbra a volta
O que farei agora?
Onde vives nua...?

Pelo braço apanhei
Nem moral, só fisicamente
Ao coro da multidão, clamei
Sou inocente, eternamente!

Bombas no campo
Armas carregadas
Nem Deus, só pranto
Almas agarradas...

Num futuro infinito
Só um Whisky, por favor
Um grito perdido...
Sem grito, mas com amor?

"Toda pureza da vida",
Dizia a voz
Com adrenalina
Rasante como Albatroz.

Essa voz do eterno
Sonhe com os anjos, amigo
Sei o que sente por dentro
Tanto a mim quanto o inimigo

Agressivo fostes
Comunista de foice
Dinheiro em caixa
À família vos trouxe

Desconexo no andar
Troque passos pelo além...
Não sei quem procurar
Ou você ou alguém

Poesia de ruim
Resumo-me
Como uma casa assim, assim
Vende-se!

Panfleto na porta
Desconexo assim
Alguém que goste
Quero só o fim

Criança de Deus
Enviado sagrado
Filhos como os Teus
Desconexo; atordoado

Ao acorde da manhã
Ao acorde da música
Não ficarei sã
Sapo e rã.

Seção de Terapia

Observo as pessoas
Analiso os meios.
Do mato à ave que voa
Com preceitos e defeitos.

Não resisti a tentação
Deitei, fechei e viajei
A mim mesmo contei a situação
Causei dúvida; estranhei

Letras, incenso e demais
Ao meu som eu vi...
Você chorar e eu sorrir,
Há mil anos no cais

Tempo escuro, embaçado
Frio, gélido e calado.
Outono no verão...
Doutor, lembrança que não foi em vão.

Que sofá confortável!
Bebo seu café
Seção interminável
Me irrito com seu "pois é..."

Psiquê de minha vida
Sossegue aí!
Linda seja minha querida;
Você não está mais ali.

Fluxo

Onde cego cegou por ver
Raiar, luz, raiar
Peças sobrepostas podem ceder
E num estalar, tudo acabar

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Desconstrução

Já vi mil coisas
Monstros, fantasmas
Observei as enigmáticas
Sonhei doideiras

Viajei muitas vezes
Cuspi na parede
Rasguei seus pertences;
Bola na rede

Tirei fotografias
Cantei para as andorinhas
Vi as atrofias
Das asas das pobrezinhas

Devagar, perigo!
Sinal amarelo, cuidado!
Verde, vá seguindo!
Vermelho, sangue esparramado

Nas solas o caminho
Desconstrução das trilhas
Bate, coração, sozinho
Sangue até nas isoladas ilhas...

Pensamento longe
Lágrima no rosto
Nunca chega o distante
O céu está roxo.

Gigante seja a vossa vontade
Que chega aqui e lá
Distâncias com mala...

Atirei, matei
Caiu aos poucos
Sorri, virei
Sumiram os outros

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Visão de Pé

Pés, chão, aguçados
Calçados, na pedra, no taco
Azulejo gelado para os descalços
Na terra, corre, brinca; cheia de machucado

Poeira, areia
Tudo enxergo
Barbatana, sereia
Não tem esse previlégio

Terremoto, tremidas
Sinto o primeiro sinal errado
Onda, água fria
Jamais conseguirei ficar equilibrado